Somos Mulheres. Somos alvos constantes de preconceitos. Somos vítimas de todos os tipos de violência. Somos as maria-rapazes, as betas e as puritanas. As histéricas, as coscuvilheiras intrometidas, as chatas e exageradas. Somos as frágeis, as dóceis, as resignadas. Somos Mulheres e queremos ver todas estas conceções enterradas, desaparecidas, findas, extintas.
Merecemos ser escutadas e reconhecidas. Somos Mulheres! Queremos sair à noite sem contar os centímetros das nossas saias, sem olhar as sombras indagando se seremos nós as próximas a sofrer as atrocidades que tantos agressores cometeram contra as nossas irmãs. Queremos caminhar confiantes pelo escritório sem que assumam que dormimos com o patrão, que o nosso mérito não existe, que não somos merecedoras do lugar que conquistamos com trabalho árduo e anos de estudo.
Queremos protestar sempre que nos tentam pisar e falar quando estamos descontentes sem sermos rotuladas de loucas, chatas e exageradas. Queremos que os nossos corpos sejam nossos e que a nossa autoestima não seja constantemente atacada pelos padrões de beleza ditados pelo capitalismo em nome do lucro. Queremos ler sentadas num jardim sem que vejam nisso um convite para que se sentem ao nosso lado e façam conversa só porque somos mulheres e estamos sozinhas naquele espaço.
Queremos viajar sozinhas sem que nos digam que existem impedimentos porque somos mulheres, que é perigoso, que devemos evitar. Queremos que, quando não haja nenhuma mulher segurança, aqueles que nos revistam não sintam liberdade de passar as mãos nos nossos corpos sabendo que ali não encontrarão nada para além das nossas curvas. Queremos ser reconhecidas como as melhores na nossa turma de informática, de engenharia, de matemática ou de qualquer outra coisa desde que isso seja merecido.
Queremos que deixem de existir áreas predominantemente masculinas apenas porque uma mulher nessa área não é vista como uma mulher a sério. Queremos ser tratadas com respeito quando vamos ao médico, que nos façam diagnósticos completos e que não achem que tudo o que dizemos é uma patologia inventada para fazer de nós vítimas. Queremos que procedimentos cirúrgicos deixem de ter nomes pré-históricos no uso corriqueiro, afinal, nenhum marido tem poder sobre os pontos que queremos ou não levar.
Queremos ser reconhecidas como seres que também são sexuais, temos vontades, desejos e fantasias como qualquer homem. Queremos abrir as nossas redes sociais e não receber mensagens de assédio, convites despropositados. Queremos responder a essas mesmas mensagens com negativas sem que nos insultem e condenem, sem que nos digam que somos convencidas, arrogantes, pudicas e nos ataquem por se sentirem fragilizados pela nossa falta de interesse.
Queremos abraçar o nosso melhor amigo sem que todas as pessoas ao nosso redor pensem “olhem lá aquela porca! Ele tem namorada, o que é que ela pensa que está a fazer?” quando não estamos a fazer nada mais do que abraçar alguém importante para nós. Queremos apaixonar-nos e deixar de nos apaixonar todas as vezes que nos apetecer ou que ditar o coração sem sermos a Maria-que-vai-com-todos e a desavergonhada.
Queremos que, num restaurante, nos dirijam também a nós a palavra como fazem ao homem que nos acompanha já que não é ele que vai pagar as nossas contas. Queremos ligar a televisão e não ver mulheres objetificadas. Queremos ir na estrada e não ouvir impropérios só porque somos uma mulher ao volante. Queremos que um sorriso educado nosso não seja interpretado como um mar de segundas intenções. Queremos vestir o que nos apetecer, ter a profissão que nos aprouver e dizer os palavrões que nos parecerem convenientes sem que nos digam que somos menos mulheres por isso.
Queremos ser mães, não queremos ser mães e não sabemos se queremos ser mães e queremos que a maternidade e a nossa escolha deixe de ser um tema aberto à discussão social. Queremos respeito. Queremos liberdade. Queremos segurança.
Somos Mulheres.
Somos fruto das vitórias semeadas por aquelas que nos precederam. Somos fortes e independentes. Somos capazes de feitos que marcam as páginas de uma história muitas vezes invisível. Somos audazes e perspicazes.
Somos mais do que roupas bonitas e maquilhagem. Somos desportistas, juízas, políticas, artistas. Somos transformadoras. Somos ousadas. Somos tímidas e irreverentes.
Somos mulheres de todas as culturas, experiências e personalidades. Somos inquietas. Somos perseverantes. Somos filhas, mães, tias e avós. Somos trabalhadoras. Somos introspectivas, ativas, certeiras, destemidas. Somos sonhos que concretizamos em objetivos. Somos as barreiras que ultrapassamos diariamente e os muros que escalamos toda a nossa vida.
Somos inteiras. Somos resilientes. Somos complexas, e sedentas por uma realidade melhor, justa, igualitária. Somos nós e não vamos ter mais medo das represálias que isso pode acarretar.
Somos Mulheres e estamos aqui em luta!
por Equipa dMpM4