Sim, foi sexismo!

Vozes que continuamos a tentar abafar

Jornalista: Resultado positivo, mas a qualidade do futebol um pouco aquém, concorda?

Treinador Jorge Jesus: Não tenho a mesma opinião que você, mas também é normal que você não saiba o que é muita qualidade de futebol.

A atitude de Jorge Jesus foi uma atitude sexista. Foi uma atitude machista. Foi uma fala que afetou as mulheres, em particular as mulheres que trabalham em jornalismo desportivo, que são tão excelentes profissionais como os jornalistas do sexo masculino. Não tentem contornar, porque ele não diria isto a um homem e o tom dele transmitiu tudo. Não desculpem. A jornalista que ali estava merecia todo o respeito enquanto fazia o seu trabalho. Não merecia ser atacada pelo seu género apenas porque perguntou algo que incomodou o ego de alguém. Ele poderia ter respondido torto a um jornalista homem, mas não ia dizer-lhe que não percebia do assunto.

Ontem decidi expor a minha opinião sobre a declaração do treinador português na minha plataforma pessoal, nomeadamente no Facebook. Penso que é importante realçar que não fui importunar ninguém. Seguiu-se uma série de comentários por parte de pessoas do género masculino na minha publicação, que apontava a fala sexista de Jorge Jesus e demonstrava o desagradado por a estarem a passar por algo comum e derivado de falta de edução.

“Não foi por ser mulher, não faças disto uma questão”. Claramente que não foi por ser mulher. Claramente que ele não estava a dizer que ela, profissional de um canal especialista renomado, não percebia de futebol porque não nasceu com o órgão reprodutor masculino. Que blasfémia acreditar que o tom utilizado foi pejorativo por isso mesmo. Estas mulheres. O que sabes tu, sendo mulher e já tendo trabalhado como jornalista em jornalismo desportivo? Nada. Portanto, a primeira instância foi invalidar a opinião de uma mulher que se incomodou com algo que atacava especificamente mulheres.

“Quando foi um homem, fizeste algum post sobre isto? Queres atenção, já estou a ver”. Este foi o meu argumento favorito, porque nem precisa de explicação, ele por si só já se desmonta e realça a falta de consideração e entendimento por parte de quem se pronuncia. A mulher levanta a sua voz contra algo que a afeta? Mas queres atenção é? Pleno 2020, mas fica quietinha no teu lugar. Já agora, uma sanduíche, não queres preparar? Se a mulher se queixa, a mulher que atenção. Se a mulher se incomoda com algo que a ataca a nível pessoal e profissional, a mulher tem que ficar calada. Um argumento que morre por si só.

“Este cancro do feminismo mete nojo, assim como quem publica coisas destas nas redes sociais”. Acredito, genuinamente, que te incomode já não vivermos nos anos 50 e apontar-se o dedo a falas machistas. Acredito.

A questão que fica é: porque tantos homens se sentiram incomodados com a minha publicação?

Acredito que tal tenha acontecido por sabem exatamente que foi por se tratar de uma jornalista mulher. E já sabemos como certos homens reagem quando uma mulher quer-se fazer ouvir, correto?

Não tentem contornar.

PS: Esta foi uma bela forma de apagar diversas pessoas do meu Facebook que nada me agregam. Recomendo.

por Sofia Monteiro Cardoso