No passado dia 17 de março, as duas técnicas de projeto do “De Mulher para Mulher 4” – Sofia Jesus e Catarina Borges – deslocaram-se à cidade de Portimão para oferecer uma formação entitulada “Jovens em Luta pela Igualdade”.
Esta formação decorreu no Pavilhão Desportivo da Boavista e dirigiu-se a associações juvenis e de estudantes/académicas, grupos informais de jovens, Conselho Municipal de Juventude, rede de parceiros locais e comunidade juvenil.
Este ano, a iniciativa da Câmara Municipal de Portimão celebrou o Ano Europeu da Juventude e propos à comunidade portimonense uma centena de atividades, online e presenciais, distribuídas ao longo de um mês.
A formação proposta pelas técnicas incidiu num esforço de reflexão conjunta acerca de alguns dos contextos que fazem parte do quotidiano e da construção da vida em sociedade e nos quais persiste uma notória invisibilidade e desconsideração pelo sexo feminino. Pretendeu-se ilustrar o modo como o pensamento masculino dominou e silenciou, durante muito tempo, as mulheres e continua a fazê-lo, impondo-se sobre a forma como pensamos, agimos e até sobre os espaços, conteúdos e objetos que nos rodeiam e que utilizamos e frequentamos diariamente. Esta intervenção inspirou-se no livro Mulheres Invisíveis de Caroline Criado Perez.
Ao longo desta formação participativa frisaram-se alguns conceitos importantes, como a distinção entre sexo e género. Abordou-se o modo como as mulheres são esquecidas no mundo do desporto e dos videojogos, assim como a falta de representatividade das mesmas em filmes de ficção cientifica e de super-heróis. Estes são apenas alguns exemplos que demonstram o modo como a cultura masculina domina a nossa experiência e as nossas perceções e nos formata para normalizar e universalizar a experiência masculina enquanto que a feminina é vista apenas como um nicho, como uma pequena parte, quando, na verdade, é metade da população mundial.
A formação focou ainda pequenas e grandes diferenças no dia-a-dia de uma mulher e de um homem que não foram tomadas em conta no planeamento e prestação de serviços públicos, como, por exemplo, nas deslocações e redes de transportes públicos, que são maioritariamente utilizados por mulheres e, no entanto, desconsideram o tipo de viagens e as razões dessas viagens; a falta de iluminação e o mau posicionamento dos parques de estacionamento, estações e paragens que contribuem para a ocorrência de violência contra a mulher e, ainda, a problemática das casas de banho públicas e gender neutral.
Foram fornecidos inúmeros exemplos de como o mundo foi moldado pelos homens e para os homens e como isso impacta a vida da mulher sem que ela se aperceba da presença do sexismo, começando pelo design de produtos talvez menos relevantes, como um piano ou um iphone demasiado grande para a mão da mulher, até produtos que fazem a diferença entre a vida e a morte, como os dispositivos de segurança de um carro ou os softwares de reconhecimento de voz nas urgências do hospital, que reconhecem a voz do homem muito melhor do que a da mulher.
Abordou-se a temática das desigualdades no meio laboral, desde a falha na conceção da meritocracia e do trabalho doméstico não remunerado das mulheres à predominância de homens em cargos de chefia. Por sua vez, esta predominância condiciona e dificulta a aprovação e investimento em produtos e projetos liderados por mulheres e que seriam bons para resolver problemas práticos de outras mulheres.
Finalmente, as técnicas concluíram esta sessão com uma reflexão sobre possíveis soluções para os problemas e lacunas apresentados. Esta solução passa por preencher a lacuna de dados de sexo e género e corrigir a lacuna de representação feminina. Quando as mulheres estão envolvidas na tomada de decisões, nas investigações e na produção de conhecimento, as mulheres não ficam esquecidas e as suas necessidades são tomadas em conta. Isto beneficiaria as mulheres de todo o mundo e, muitas vezes, beneficia a humanidade como um todo. Tudo o que é preciso fazer é incluir e consultar as mulheres e tomar em conta as suas respostas sobre o mundo, as suas infra-estruturas e os objetos que nos rodeiam. Há certos problemas que têm soluções simples, apenas precisamos de continuar a divulgar a mensagem, sensibilizar e consciencializar a sociedade para as desigualdades que continuam a existir e o que cada um pode fazer.
No caminho para a solução, salientou-se a importância da juventude enquanto parte integrante destas mudanças que desejamos ver no mundo. É necessário que as gerações mais novas sejam trazidas para o diálogo, que sejam integradas, ouvidas e empoderadas para que ocupem o seu próprio papel de mudança e de liderança. Contrariamente àquilo que é percecionado de forma geral, a juventude participa formalmente na vida política em proporções semelhantes às do resto da população. No entanto, é preciso investir continuamente na promoção deste envolvimento, uma vez que a política é parte integrante da sociedade em que vivemos e é através dela que são definidas políticas públicas e medidas que podem dar resposta às lacunas e problemas que fomos relatando ao longo da formação.