O caso de Sarah Everard

Sarah Everard, uma cidadã britânica, foi brutalmente assassinada por um polícia enquanto caminhava até casa. Sarah fez “tudo direito”. Avisou a amiga que lhe enviava uma mensagem quando chegasse a casa. Estava a conversar com o seu namorado ao telemóvel. Ia coberta com roupas de inverno, porque sempre nos ensinaram a cobrir todo e qualquer pedaço de pele que pudesse emitir algum cheiro que atraísse o predador. Seguia num passo apressado e não parou em parte alguma, provavelmente com o coração um pouco acelerado, como todas sentimos quando caminhamos nas ruas pouco iluminadas pela luz que a lua emite.

Sarah fez “tudo direito”. Todas as regras que nos ensinam enquanto mulheres para sermos capazes de nos proteger dos monstros que se escondem em cada esquina com a ajuda da escuridão noturna.

Mas que tipo de regras são estas? Afinal de contas, Sarah fez “tudo direito” e acabou raptada e assassinada por um homem. Por um polícia, uma figura que, se ela visse na rua àquela hora, a deveria fazer sentir segura. E acabou por lhe roubar a vida. Assim, sem mais nem menos. Uma vida ceifada enquanto caminhava até casa. E que tipo de regras são estas que nos restringem a nós, mulheres, de fazer algo tão simples como caminhar? Que tipo de século é este?

Na minha cabeça, a concepção de termos que continuar a proteger-nos é irrisória. Não deveria ser ao contrário? Não deveriam ser os monstros os castigados e nós a parte com direito a uma ínfima liberdade, algo que nos estão sempre a arrancar? Algo tão mínimo, tão irrisório, tão extenuante. Em que mundo isto continua a ser justo?

E depois, claro está, iniciam-se os gritos protestantes: nem todos os homens são assim. E sim, felizmente nem todos os homens são assim.

Contudo, é mesmo isso que importa agora? É mesmo isso que é relevante para o futuro ou apenas para o vosso ego?

Nem todos os homens são assim, mas todas as mulheres já caminharam para casa de noite e temeram que esses fossem os seus últimos passos, enquanto empenhavam as chaves de casa na mão, caso alguém as tentasse atacar.

Merecemos melhor. Sarah merecia melhor.

por Sofia Monteiro Cardoso