A Mulher é um ser complexo emocional e intelectual. Não somos mais, mas recusamo-nos a ser menos. Somos cativas de um instinto protetor, proveniente da sensibilidade que nos abraça. Ser Mulher é acordar todos os dias e ter a capacidade de moldar o nosso psicológico em prol de um equilíbrio entre aquilo que somos e aquilo que a sociedade espera de nós.
Não será excêntrico afirmar que, muitas vezes, alcançar a nossa liberdade é um preço alto a pagar? No nosso íntimo existe uma tendência para exercermos um autojulgamento antes de os demais o fazerem, seja por contrariarmos estereótipos ou quebrarmos o padrão. Não é de agora que batalhamos contra o sistema ou que somos forçadas a aceitar menos do que aquilo que deveria ser o mínimo do senso comum nas relações intersociais.
Somos Mulheres reais com medos e virtudes, sensíveis, mas fortes em que para cada fraqueza há um sinónimo de coragem, seja pela forma como vemos o mundo ou pelo modo como a nossa postura se comporta perante todos os estigmas á volta do no ser. Na verdade, ao contrário do que se possa pensar, nunca tivemos algo contra os homens mas o machismo existe. Lamento, mas não é um capricho “feminista”, é um facto!
A culpa desse acontecimento é a desigualdade que emerge de forma constante em meras situações da nossa rotina, ainda que nos tentem convencer que o mundo não é dos homens. Não podemos concordar. A justiça é teimosa e prova-nos o contrário, as estatísticas são o álibi da nossa luta! Vítimas? Não! Somos Mulheres que sabemos o que é certo e o que é errado e nesse sentido tentamos impôr uma maior conscientização dos nossos direitos já que, em inúmeros casos, isso irá assegurar a nossa sobrevivência. Habituadas desde sempre a reprimir emoções, hoje em dia, isso não é mais aceitavél.
Faz todo o sentido contribuir para um movimento que visa igualar os nossos direitos, aliás, existem os Direitos Humanos que, por si só, deveriam abranger as questões de género, certo? Sempre defendi o que faz sentido de acordo com os meus valores e ideais. Contudo, senti necessidade de reforçar a minha voz, após ter passado por uma experiência na minha vida pessoal que tornou mais nítida a minha visão acerca deste tema. Aos 17 anos, sofri de violência doméstica. Os episódios de violência física foram poucos, porém, apesar do número reduzido, quase colocaram fim á minha vida. Para além disso, a violência psicológica que sabotou por completo a minha sanidade jamais poderá ser descartada como algo a desvalorizar e/ou excluir. Sempre fui uma adolescente com ambição, rebelde e com uma perspetiva bem fundamentada acerca da realidade para alguém daquela idade. No entanto, ter estado numa relação abusiva fez-me sentir á deriva. Apesar de perceber que o comportamento da outra parte não era correto, a ingenuidade da idade levou me a pensar que talvez a culpa fosse minha enquanto cedia a episódios de chantagem e manipulação. Quem sentiu isto na pele, sabe certamente a “bola de neve” que se vai formando á nossa volta. Deturpa por completo a nossa identidade. Deixei os meus objetivos de lado e tornei-me uma pessoa distante e infeliz.
De momento estou prestes a entrar na casa dos 20 e, como mulher, ainda sinto que estou no processo de reconstrução da minha identidade. Embora as mazelas fisicas tenham desaparecido, o psicológico foi abalado e, consequentemente, a minha confiança também.
É importante perceber que, numa escala de géneros, a percentagem de casos deste caráter (e de outros) é maioritariamente refletida no género feminino. Isto deve-se ao facto de a Mulher sempre ter sido vista como a fragilidade na forma humana. O propósito desta reflexão é elucidar as pessoas de que vivemos numa sociedade extremamente sexista e é necessário reeducarmos mentalidades de forma urgente.
Desde os tempos antigos que a forma de um homem se afirmar é sendo violento, na atualidade penso que isso já é “antiquado”, ou será apenas um comportamento de vitimização da nossa parte?
Ainda temos uma batalha dura pela frente, mas acredito muito na nossa força e se lutarmos para que o sistema nos ouça tenho a certeza que vamos vingar e temos tanto para dar ao mundo!
Mikaela Oliveira