Literacia Mediática, direitos humanos das mulheres e raparigas, direitos sexuais e reprodutivos
O projeto My body is my own é financiado pela União Europeia no contexto do Programa Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores (CERV), promovido pela organização italiana Associazione Di Promozione Sociale Maghweb, com parceria da organização polaca Stowarzyszenie Aktywne Kobiety e da REDE de Jovens para a Igualdade. Tem a duração de 18 meses ( Fevereiro 2023- Agosto 2024)
O projeto pretende envolver 412 cidadãos e cidadãos em Portugal, na Itália e na Polónia, abrindo um espaço de construção comum para o debate informado sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, direcionado em particular a professoras/es, educadoras/es e jornalistas, de modo a desmistificar mitos e tabus sobre a saúde sexual e reprodutiva, o acesso a contracetivos, o aborto legal e seguro, a educação sexual e os direitos fundamentais das mulheres e das raparigas. Assim, My body is my own pretende promover sinergias entre jornalistas e ativistas no sentido do combate à desinformação por meio da alfabetização mediática e da promoção e fortalecimento de um debate europeu que capacite as e os cidadãos para tomar decisões informadas e conscientes na reivindicação dos seus direitos fundamentais.
OBJETIVOS DO PROJETO:
- Combater a desinformação e desmascarar notícias falsas sobre direitos sexuais e reprodutivos;
- Sensibilizar a juventude para os direitos sexuais e reprodutivos;
- Partilhar práticas e metodologias entre ativistas na Europa com foco em advocacy e conscientização sobre direitos sexuais e reprodutivos.
ATIVIDADES
Ao longo do projeto serão organizadas 7 atividades nos três países:
1- Três encontros de debate sobre o acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez (Itália) , Mulheres e Direitos Reprodutivos (Polónia), Educação Sexual e Pornografia (REDE) com ativistas e jornalistas entre maio e julho de 2023;
2-Um encontro internacional de parceiros em setembro 2023 em Palermo;
3- Três eventos nacionais com a duração de dois dias,abertos ao público, sobre estas matérias e para apresentar os resultados do projeto entre maio e julho de 2024.
1º Evento em Portugal “Educação Sexual e Pornografia: transformando a narrativa“
1. COLÓQUIO |Educação Sexual e Pornografia: transformando a narrativa ( 8 de Julho 2023)
O colóquio | Educação Sexual e Pornografia: transformando a narrativa pretendeu explorar a relação entre a indústria pornográfica e a vivência da sexualidade nos dias de hoje, em particular nas e nos jovens. Teve lugar a 8 de julho do Centro da Juventude de Moscavide (Lisboa).
A influência da pornografia sobre a vivência da sexualidade tem sido cada vez mais debatida não só nos meios feministas, mas também escolares. Ainda que em Portugal a Educação Sexual seja obrigatória nas escolas, a verdade é que ela não tem dado resposta às necessidades das e dos jovens, ficando aquém das reais inquietações, curiosidade e dúvidas desta faixa etária. Por outro lado, ouvimos cada vez mais falar de BDSM, Kinkshaming, sexo baunilha e pornografia feminista, sem que exista uma crítica no espaço público e mediático sobre estes termos.
OBJETIVOS
- Abrir um espaço de construção comum para o debate informado sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, de modo a desmistificar mitos e tabus sobre a educação sexual e os direitos fundamentais das mulheres e das raparigas.
- Promover sinergias entre jornalistas e ativistas no sentido do combate à desinformação, por meio da alfabetização mediática e da promoção e fortalecimento de um debate que capacite as e os cidadãos para tomar decisões informadas e conscientes na reivindicação dos seus direitos fundamentais.
- Analisar a relação entre a indústria pornográfica e a vivência da sexualidade e discutir a literacia mediática e a comunicação para a igualdade. Foram abordados os fenómenos do kink shaming e da pornografia feminista e o que eles nos podem ensinar sobre a erotização da violência no espaço público e mediático.
O QUE DEBATEMOS NO ENCONTRO?
O Colóquio abriu com painel de cinco intervenientes que abordaram temáticas relacionadas com a educação sexual feminista e a pornografia.
Diana Pinto, ativista feminista e técnica de projetos numa associação feminista, introduziu a história do movimento feminista antipornografia, cujo início remonta à década de 70, e qual foi a análise feita pelas feministas da Segunda Vaga relativamente à indústria do sexo e em particular à indústria da pornografia, que nas últimas décadas se consolidou. Abordou os desafios que encontramos hoje na crítica à pornografia, uma vez que esta se normalizou, saindo da esfera do tabu, e se tornou facilmente acessível na internet gratuitamente e domina atualmente a esfera da sexualidade dos e das jovens. A Diana introduziu também os conceitos de pornografia feminista, kink shaming e como estas formas de pornografia são hoje vendidas para o público como transformadoras e emancipadoras, dificultando a crítica feminista às mesmas e a construção de um referencial saudável de educação sexual.
Lúcia Pestana, jurista e ativista feminista, trouxe para a discussão o fenómeno da Violência Sexual com base em Imagens( VSBI), temática que tem sido trabalhada pela REDE no âmbito do Projeto Cidadãos Ativ@s “FAZ DELETE”. Abordou as diferentes manifestações da VSBI e qual a sua relação atual com a indústria da pornografia e a hipersexualização das jovens mulheres e raparigas. Apresentou os resultados do projeto FAZ DELETE e qual a proposta jurídica da REDE relativamente ao projeto de lei aprovado em Abril.
Mariana Branco, investigadora feminista de mestrado, apresentou a ideia geral da sua pesquisa sobre as jovens que abrem conta na plataforma Only Fans e sobre os mitos que rodeiam esta plataforma, em particular o mito do trabalho “fácil” e enriquecimento rápido, que não é a realidade da grande maioria das produtoras de conteúdo. Abordou igualmente as questões laborais que surgem com esta plataforma e de que forma a exploração económica e sexual das mulheres é a estratégia de negócio da mesma.
A professora e investigadora universitária Teresa Pinto fez uma análise da atual lei de Educação Sexual nas escolas em Portugal, quais os seus objetivos e fundamentos e como está sendo implementada no sistema educativo. A discussão focou muito o facto de a educação sexual em Portugal ser vista não como uma questão de educação, mas sim de saúde e como isto dificulta que se aborde a sexualidade com uma perspetiva de género e tomando em consideração as relações de poder desiguais entre mulheres e homens.
A jovem jornalista Ana Luisa Bailosa, fundadora da Plataforma de Jornalismo Feminista ABORDA, fez um curto diagnóstico de como a violência para com as mulheres e em particular a violência sexual é abordada nos meios de comunicação considerados mainstream e como estes têm de obedecer à estratégia editorial, regularmente dissociada de qualquer perspetiva crítica e muito menos como enfoque de género. Já existem, no entanto, alguns exemplos positivos.
Após o término do primeiro painel houve um momento de discussão em plenário entre todas as pessoas na sala.
Na segunda parte, Margarida Teixeira, communications officer numa organização internacional e expert em comunicação para o desenvolvimento, dividiu as participantes em cinco grupos e cada grupo, apoiando-se num estudo de caso previamente definido, teve de criar uma proposta de notícia, cumprindo alguns critérios, tendo em consideração a discussão teórica da parte da manhã. Cada grupo pôde apresentar o seu trabalho, explicar a suas escolhas e receber feedback dos restantes grupos. No final do exercício, em plenário, foram enunciadas algumas boas práticas que deveriam ser seguidas pelos e pelas jornalistas por forma a escreverem notícias informados/as por uma perspetiva crítica feminista e que promova a igualdade entre mulheres e homens.
No final do workshop as ativistas Clara Pelotte e Aline Rossi fecharam o dia com uma reflexão sobre pornografia e educação sexual e o papel dos media na promoção da igualdade entre mulheres e homens na luta contra a violência masculina.
2. ENCONTRO FEMINISTA | A sexualidade e os direitos reprodutivos (19 e 20 de Julho 2024)
O Encontro Feminista foi o último evento do projeto “My Body is My Own” e teve lugar em Lisboa, na sede da organização feminista UMAR. Este encontro foi um evento conjunto entre o projeto “My Body is my Own” em parceria como a Campanha Europeia “My voice, my choice“, que em Portugal é integrada pela REDE, a UMAR, a OVO, a APMJ, a AKTO e a PpDM,
OBJETIVOS DO ENCONTRO
Este encontro quis dar resposta a dois temas diferentes, mas que estão diretamente ligados: as questões da sexualidade feminina, e a sua relação com a exploração das mulheres, e as questões dos direitos reprodutivos, focando no acesso ao aborto.
O Evento reuniu diferentes pessoas e organizações, que tendo posicionamentos diferentes em matérias como, por exemplo, a pornografia se sentaram a reflectir sobre estas matérias, através de um diálogo entre pares, e também sobre as questões do aborto em Portugal. As opiniões discutidas ao longo do encontro não representam necessariamente nem as posições da REDE, da Umar, das organizações membro da Campanha, ou da própria Campanha. No final, deste encontro irá sair, baseado no material das discussões, uma proposta de reinvidações do movimento feminista em Portugal, que poderá ser subscrito por orrganizações ou pessoas individuais que nelas se revejam.
O QUE DEBATEMOS NESTE ENCONTRO DE DOIS DIAS
O encontro inciou no dia 19 com uma pequena apresentação do projeto “My Body is my Own” e da Campanha “My voice, my choice”. A abertura foi feita por Teresa Silva, da direção da Rede, Joana Salas, da direção da UMAR e Diana Pinto, responsável da campanha em Portugal.
No segundo paineel, intitulado “AS MULHERES E A SEXUALIDADE”, a Procuradora da Repúbllica e membra da APMJ , Rita Mota Sousa abordou, de um ponto de vista da história do direito, o carácter marcadamente androcêntrico do mesmo e de como as mulheres foram percepcionadas como “propriedade” dos familiares masculinos ou do marido e que futuro poderemos imaginar coletivamente para um direito que possa vir a ter um papel emancipador para as mulheres. Logo a seguir, interveio a jovem ativista e mestranda Laura Freire que ns falou sobre algumas características históricas da sexaulidade feminina, focando no caso da pornografia como exemplo de exploração sexual das mulheres.
Por motivos de doença a investigadora do NOVA Center for the Study of Gender, Family and the Law – Oumaima Derfoufi não pode comparecer. A sua apresentação integraria o painel sobre a CRISE DA DEMOGRAFIA, com a Diretora do escritório de Londres do Fundo da ONU para a População – Mónica Ferro. Mónica Ferro abordou o papel do Fundo da ONU para a População, quais os desafios para a demografia no futuro e de que forma as políticas demográficas , em particular , as noções de emprego, segurança social, e os direitos das mulheres que não podem ser revertidos em nome de políticas demográficas nativistas.
No segundo dia, o Encontro iniciou com o Painel DIREITO AO ABORTO: DA BASE JURÍDICA AO ACESSO REAL. Este painel dividiu-se em dois: duas intervenções académico-teóricas e duas intervenções para dar a conhecer a realidade do acesso ao aborto. Na componente teórica, tivemos a participação da constitucionalista Teresa Violante que nos deu a conhecer a sua investigação sobre o direito de objeção de consciência e de como este é invocado sem critérios claros no que se refere à prestação dos cuidados de saúde, em particular a IVG. Seguidamente, a investigadora no NOVA Center for the Study of Gender, Family and the Law e Vice-Presidente da REDE -Lúcia Pestna apresentou-nos os diferentes argumentos políticos para fundamentar o direito político ao aborto, trazendo para a discussão a relflexão sobre gravidez não desejada e tortura.
Carla Santos da OVO e Emilia Esini da Maghweb explicaram de forma detalhe como se realiza o direito ao aborto em Portugal e Itália, sendo que os dois países têm muita semelhanças no que concerne as dificuldades e barreiras colocadas às mulheres que desejam fazer uma IVG. As duas ativistas partilharam o seu trabalho quotidiano e de que forma as respectivas organizações são essenciais para o apoio às mulheres e raparigas.
Após o painel, as e os participantes dividiram-me em três grupos de trabalho para debater as seguintes questões: Objeção de consciência, fundamento polítco do aborto, como melhorar o acesso ao aborto na UE?
Na parte da tarde, o segundo Painel- A PORNOGRAFIA E O PARADIGMA DO CONSENTIMENTO- focou-se nas questões da sexualidade das mulheres e diferentes perspectivas e propostas sobre a mesma. O painel abriu com a Presidente da Rede- Teresa Silva a reflectir sobre a noção de consentimento e se o paradigma do consentimento é ou não adequado para as mulheres e até que ponto não deveríamos falar do paradigma da dominação e do paradigma do desejo. Por motivos de última necessidade, a representante Alexandra Silva da PpDM, e membro do Observatório sobre a violência contra as mulheres do Lobby Europeu de Mulheres, não pode estar presente para apresentar a recentemente aprovada DIRETIVA DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO relativa ao combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica. Por fim Joana Sales da Direção da Umar e Mariana Branco, investigadora na FCSH, apresentaram algumas ideias divergentes sobre a pornografia – Mariana Branco focou na sua investigação sobre o Only Fans em Portugal e Joana Sales sobre a necessisade de dar direitos e proteção a estas mulheres.
Tal como no painel anterior, o grupo fou divido em dois grupos de trabalho – um sobre as noções de consentimento e outro sobre a Pornografia. Segui-se um longo e intenso debate sobre estas duas questões, em particular sobre tudo o que se relaciona com a pornografia e o seu papel na construção da sexualidade das mulheres.
O evento fechou com uma converda/ partilha final sobre diferentes questões sobre o aborto, com a participação especial de uma organização internacioal que se dedica a apoiar mulheres que não têm acesso aos cuidados de saúde para reaizarem um aborto medicamentoso.
AQUI PODES VER ALGUNS VÍDEOS DO EVENTO: https://www.instagram.com/redejovensigualdade/
PARA VERES MAIS INFORMAÇÃO SOBRE O EVENTO, CONSULTA A NOSSA PÁGINA DE INSTAGRAM
Estamos em mudanças
Viemos daqui. No final de Agosto começámos as mudanças e hoje vamos recomeçar aqui. Esperamos que o blog da REDE continue a ser um espaço de partilha de informação e fomento de intervenção na área da juventude e da igualdade…