Quando falamos em aborto, é notório que o assunto provoca uma sensação de desconforto. É um dos telhados de vidro do pensamento moral e quem compactua com o mesmo é alvo de vários transtornos por parte de quem não defende este ato. A verdade, é que nem todos concordamos com as mesmas ideias e está tudo bem! No mínimo, temos de ter conhecimento de causa para podermos formar uma opinião bem fundamentada com todos os prós e contras e, sobretudo, estarmos em sincronia com todos os factos e não apenas com uma premissa construída só porque ouvimos o vizinho falar. É preciso ir mais além porque estamos a falar de uma assunto sério. Não são meros caprichos. De um lado, temos o argumento da escolha pró vida que tem como objetivo defender a proteção à vida como o valor superior. Do outro lado da balança, uma escolha mais liberal que defende o direito que a mulher tem sobre o próprio corpo.
Do meu ponto de vista, há coisas mais importantes sobre as quais refletir! Para começar, morrem imensas mulheres em fase de gestação, de modo coincidente, nos mesmos países em que o aborto é ilegal. Instituições de saúde não permitem que as mulheres façam um aborto com as devidas condições de segurança, potencializando a existência de abortos que acabam por ser feitos de forma “clandestina” terminando numa fatalidade muitas das vezes.
É um facto que, com a informação que existe na sociedade contemporânea, um maior acesso às instituições de saúde e ainda os métodos contracetivos (pelos menos nos países mais desenvolvidos), a prática deve ser evitada pois as pessoas devem ser conscientes e responsáveis pelos seus atos. Apesar disto, os métodos contracetivos não são eficazes a 100% e muito pode acontecer sem que isso queira dizer mais ou menos sobre quem somos.
Uma gravidez pode acontecer seja pela utilização errada dos contracetivos ou por muitos outros motivos possíveis.
Quanto ao argumento de que se está a matar uma vida: quem somos nós para definir o que é ou não é uma vida? É uma questão pessoal, moral e filosófica.
Para mim, vale ainda a pena mencionar que o aborto, não sendo legal, vai contra os direitos sexuais e reprodutivos da Mulher, acabando por reforçar o estigma da maternidade. Este impõe-nos que toda a mulher está destinada a ser mãe.
Esta é uma reflexão que tenho vindo a fazer e que me fez concluir, ainda, que o aborto deve ser legal em todo o mundo. Acredito nisto já que, avaliando todas as situações que fui expondo, o prejuízo de não o ser me parece ser sempre mais elevado. Por último, penso ainda que deveriam ser adotadas e reforçadas várias políticas públicas relativas à educação sexual e planeamento familiar.
por Mikaela Oliveira