Todos os anos, por esta altura, é impreterível que façamos um balanço do nosso ano. Decidi, então, que ia escrever um texto que nos pudesse ser útil, para uma reflexão profunda e conjunta acerca da violência contra as mulheres e raparigas, como um flagelo que ainda nos assola.
Deixo-vos, assim, um pequeno resumo dos meses de 2021, realizado através de notícias retiradas dos jornais portugueses (Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Expresso, Diário de Notícias e Público).
Não têm caras, nem nomes. São mulheres e raparigas. Somos todas nós.

Quando pensamos que o início do ano traz consigo novas promessas e desfechos diferentes, basta que olhemos para as notícias para que tenhamos ideia de que existem coisas que, infelizmente, se mantêm inalteradas. O mês de janeiro foi marcado por notícias de casos de 2020, de processos que ainda estavam a decorrer, de crimes que ainda não tinham sido penalizados.
As primeiras páginas dos jornais dedicaram a sua atenção às eleições para a Presidência da República, às sondagens e à terceira vaga da pandemia que assolou o nosso país. No entanto, muitas vezes em letras pequeninas, poucos foram os dias que não contaram com notícias sobre alguma mulher e/ou rapariga que sofreu de atrocidades que devastam tanto como a COVID-19 devastou.
Logo nos primeiros dias, várias mulheres foram agredidas por companheiros e ex-companheiros. Muitas agressões duraram meses e anos. Muitas meninas foram violadas e mal tratadas quando deviam ser protegidas.
Se o mês de janeiro servisse de trailer para os 11 meses seguintes, o filme só caberia na categoria de terror. Um terror real e persistente. Um terror abominável. Um terror que vai para além das palavras.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 40
Em todos os casos relatados nas notícias encontradas, os agressores foram homens. Uma das mulheres foi espancada por se ter recusado a realizar assaltos com o companheiro.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 15
Mais uma vez, os agressores eram homens.
- Casos de familiares agredidas: 5
Alguns dos casos apresentados deveram-se à recusa em dar dinheiro aos filhos. Num deles, um homem despejou óleo na cabeça da mãe que acabou por conseguir fugir. Uma das agressões foi contra a avó e outra contra a irmã. Neste último caso, o agressor acabou por incendiar o prédio onde a familiar vivia.
- Casos de mulheres grávidas agredidas: 1
Foi agredida, no contexto de um antiga relação, com pontapés no abdómen.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas na via pública: 7
Seja a passear o cão, a trabalhar em casas de prostituição ou até sendo assediada por um revisor de comboios, a verdade é que é um problema incidente.
- Casos de violação de mulheres: 3
Uma delas foi violada por um amigo de infância com quem tinha ido jantar.
- Casos de mulheres mortas por ex-companheiros: 1
Teresa foi morta à facada pelo ex-marido quando este recebeu a notificação do divórcio.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 17
A maioria dos casos foram perpetuados por homens, muitas vezes familiares ou amigos da família que aproveitavam a proximidade com as crianças, exceto um em que a agressora foi uma mãe.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 3
Os agressores eram homens que mantinham relações próximas com as vítimas, sendo que um deles era cunhado e outro vivia com a jovem de que abusou.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 3
Dois deles foram violações consumadas, uma delas foi uma tentativa a uma estudante que dormia na sua residência.
- Casos de mutilação genital feminina: 1
Uma mãe permitiu que o procedimento fosse executado na filha, durante umas férias na Guiné-Bissau. Foi a primeira vez que o crime foi julgado em Portugal.
- Casos de abusos sexuais baseados em imagens: 2
Centraram-se em ameaças de partilha de conteúdos íntimos que deveriam ser privados. Um dos casos foi com uma menor.
- Pornografia infantil: 7
Com exceção de uma mãe que partilhou fotos das filhas, todos eram homens.

Novamente, alguns dos crimes são antigos e as notícias decidiram relatá-los por terem existido desenvolvimentos nos processos dos mesmos ou reincidência de crimes. Fevereiro, ainda que tenha sido um mês mais calmo do que o anterior, não deixou de apresentar as suas marcas nas páginas dos jornais.
Este foi um bom mês para refletir acerca do sentido de justiça em Portugal já que 1304 agressores se encontram a cumprir pena em casa, com recurso a pulseiras eletrónicas e puderam ser constatados alguns crimes reincidentes.
O mês também foi palco do insólito episódio do jovem de Viseu que alegou ter violado uma rapariga que deixou no INEM após uma festa. O caso tomou repercussões gigantescas depois do indivíduo ter divulgado um vídeo, supostamente assumindo o que fizera. No final, felizmente, o crime foi só por perjúrio e difamação e a rapariga não tinha realmente sido violada.
A par de tudo isto, destaca-se o caso da Valentina, um dos mais noticiados. Valentina era uma menina de 9 anos, morta pelo pai que a pressionava a falar por desconfiar que ela mantinha relações sexuais com colegas e familiares. A madrasta também teve um papel central na trama já que terá ajudado o marido a esconder o corpo da filha. Como é realmente desumano que se trate assim uma criança sem parar para pensar que o cenário das relações sexuais poderia, perfeitamente, ser um cenário de abusos.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 30
Foram muitos os casos relatados e outros meramente enunciados. Os crimes variam desde ameaças com armas, espancamentos em frente dos filhos, relações abusivas que duram anos e anos.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 9
Um padrão é que são estas agressões que passam mais por perseguições constantes.
- Casos de familiares agredidas: 4
O pior caso relatado é de uma família em que o pai e os filhos abusavam sexualmente de todas as mulheres da família.
- Casos de mulheres grávidas agredidas: 2
As duas vítimas de violência doméstica e uma delas obrigada a prostituir-se até durante a gestação.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 1
Uma mulher, que trabalhava como empregada de limpeza, era assediada pelo patrão, um antigo sargento da GNR, que se masturbava à sua frente.
- Casos de violação de mulheres: 1
Uma tentativa foi noticiada. No entanto, é preciso lembrar que casos destes acontecem todos os dias, quase sempre em silêncio.
- Casos de mulheres assasinadas: 1
Encontrada morta em casa com um tiro.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 7
Num dos casos, a criança era molestada pelo avô, na ausência da mãe que, mais tarde, se verificou ter sido também vítima na sua infância. Outro caso é de uma menina órfã, abusada sexualmente pelo tio.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 1
Ex-comandante dos bombeiros violava duas meninas com incapacidades, dando-lhes doces e algum dinheiro em troca do seu silêncio.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 3
Um homem violou a enteada durante anos, uma rapariga foi violada numa festa de aniversário e outro homem violou e ameaçou a vizinha durante anos.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 3
Num dos casos, uma jovem foi forçada a prostituir-se com base na ameaça de que o agressor exporia conteúdos íntimos caso não o fizesse.
- Pornografia infantil: 4
Um homem foi detido por ter milhares de peças de conteúdo pornográfico de menores. A par disto, a PJ deteve 50 pedófilos que usavam as redes sociais.
- Trabalho feminino: 2 notícias
Aumentaram os despedimentos de mulheres grávidas e a Segurança Social fez cortes ilegais a gestantes em lay-off.

Março, o mês que assinala o Dia Internacional da Mulher que, apesar de ser uma data importante, não é uma data lembrada por muitos jornais. Ao invés, podia ler-se em quase todas as capas dos exemplares analisados que Cristiano Ronaldo decidira mudar-se para Portugal novamente.
As notícias do mês continuaram a passar pela terceira vaga provocada pela pandemia, que se estendia há largas semanas e retirava a esperança das pessoas. Os jornais noticiavam com eloquência a evolução do vírus, da vacinação, dos progressos escolares… E, contudo, um dos maiores problemas provocados por esta situação foi o aumento dos casos de violência contra mulheres e raparigas que, durante este tempo, se viram obrigadas a ficar fechadas com os seus agressores. Este problema estendeu-se durante mais de um ano e, por isso, deve ser relembrado quando pensamos em 2021. Uma notícia, adiantada pelo Correio da Manhã, alertou para o facto de que a pena mais comum para os crimes de violência doméstica é a pena suspensa. Isto significa que a maioria dos agressores sai em liberdade, alegadamente não podendo cometer novos delitos. No entanto, se passarmos os olhos por algumas das situações noticiadas podemos verificar que existem vários criminosos reincidentes, alguns dos quais procuram até a mesma vítima.
Março devia ter sido capaz de ensinar que as penas aplicadas não estão a ser suficientes!
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 33
Agressores que tinham armas em casa (incluído balas de guerra e uma granada), agressões feitas com x-atos e fogo ateado a mulheres. Os terrores foram incontáveis.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 4
Todos os casos ocorreram no rescaldo de separações.
- Casos de familiares agredidas: 7
Agressões a mães e a cunhadas foram as que mais se destacaram.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 5
Assaltos a mulheres na rua e em casa, uma mulher que foi metida na mala de um carro para ser assaltada e idosas atacadas com frequência.
- Casos de violação de mulheres: 7
Num dos casos, um homem violou quatro mulheres numa associação para sem-abrigo. Num outro caso, uma mulher foi forçada a ter relações sexuais sob a ameaça de um revólver.
- Casos de mulheres assassinadas: 6
Ainda que algumas notícias não deixem evidente as datas dos assassinatos, todos os crimes foram atrozes: uma mãe morta a tiro, uma mulher asfixiada, uma mulher encontrada num rio, uma mulher perseguida e assassinada e outros crimes hediondos.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 8
Muitos dos casos referidos foram tentativas de abuso sexual. No entanto, uma menor foi apalpada no metro e um homem reformado oferecia-se aos vizinhos para ir buscar as suas filhas à escola, abusando delas nesse espaço temporal. Para além disto, um homem foi detido por violar a meia-irmã, de 10 anos.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 1
Uma mulher com declarada taxa de incapacidade cognitiva foi violada por um colega de trabalho.
- Pornografia infantil: 2
Um homem foi detido por ter conteúdos de menores, enquanto que outro tinha vários vídeos de sexo com crianças.

No mês de abril, um relatório da Europol alertou para a existência de mais violência a todos os níveis. Tal como refletimos anteriormente, a violência contra as mulheres disparou durante a pandemia. Num mês em que se começava a falar do desconfinamento e das fases inerentes, as mulheres não foram poupadas às violações, assassinatos, crimes de violência doméstica, abusos sexuais de menores e casos de agressão e de assédio contra mulheres e raparigas.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 10
Num dos casos, uma mulher com HIV foi agredida numa relação de 9 anos. Uma rapariga foi espancada e ameaçada depois de perdoar e voltar para o namorado. Uma filha conseguiu evitar que o pai esfaqueasse a mãe.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 3
Num dos casos, um homem atacou o carro e invadiu a casa da ex-namorada.
- Casos de familiares agredidas: 3
Um homem ameaçou a irmã, a mãe e a sobrinha e outro ameaçou atear fogo na casa da família da companheira.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 2
Uma idosa foi agredida para que a pudessem roubar enquanto que uma mulher foi vítima de uma tentativa de rapto.
- Casos de violação de mulheres: 1
A tentativa noticiada de crime surgiu após um agressor ter sido libertado. O homem estava acusado de ter cometido o mesmo crime anteriormente, mas foi deixado em liberdade enquanto aguardava julgamento, momento em que procurou voltou a cometer o mesmo ato.
- Casos de mulheres assassinadas: 1
Uma idosa foi encontrada morta em casa. A mulher encontrava-se deitada na cama e nua da cintura para baixo.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 5
Num hospital, um reformado por incapacidade atacou uma menina de 9 anos. Um homem violou a sua cunhada menor e outro violou a sua enteada.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 1
Um militar filmou as suas colegas a tomarem banho nos chuveiros. Como seria expectável, as vítimas encontravam-se despidas.
- Pornografia infantil: 2
Dois homens foram detidos por terem imensos conteúdos infantis pornográficos. Ambos recebiam, viam e partilhavam os vídeos.

Maio foi marcado pelas constantes páginas sobre um caso de uma mulher agressora, pelo desconfinamento, pelo desempenho do Sporting no futebol e pela infeliz morte da atriz Maria João Abreu.
Para além disto, Maio contou com vários casos de violência contra as mulheres e raparigas relatados nos jornais. Contudo, existiu uma diferença que me chocou. O mês apresentou muitos mais casos em que mulheres foram agressoras de outras mulheres! Uma mulher foi assassinada pelo suposto namorado e pela outra companheira do mesmo e que a vítima desconhecia. Aparentemente, a morte deveu-se à necessidade de evitar que a vítima alterasse a herança. Numa escola, uma rapariga foi agredida por outras três raparigas de forma bastante violenta, tendo as suas unhas arrancadas a sangue frio. A direção limitou-se a suspender a rapariga mais velha e as outras três saíram incólumes. Noutra zona do país, uma mãe agrediu outra encarregada de educação. Por último, daquilo que foi possível verificar, uma mãe vendeu a filha por 20 mil euros a um homem mais velho, antigo chefe dos bombeiros e enfermeiro que violava a menor repetidamente. Se já gera revolta que nos deparemos com tantas páginas de crimes cometidos contra mulheres, que dizer quando esses crimes são provenientes de outras mulheres? Fica um sabor ácido na boca, um aperto no estômago e a sensação de que não temos feito o suficiente para que o mundo mude.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 8
O número parece mais pequeno mas os episódios continuam a ser surreais: um homem tentou violar a mulher com um cabo de vassoura, uma grávida foi pontapeada com botas de biqueira de aço na barriga, um polícia espancou a sua mulher com o bebé no colo…
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 4
Perseguições e ameaças, extorsão de dinheiro e um militar preso por agredir a ex-companheira.
- Casos de familiares agredidas: 6
Várias mães foram agredidas pelos próprios filhos, sendo que pelo menos um foi para extorquir dinheiro para droga.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 5
Duas mulheres foram assaltadas em diferentes zonas do país e deram-se os dois episódios entre mulheres (agressão de jovem por outras jovens e mãe que agrediu outra encarregada de educação).
- Casos de violação de mulheres: 2
Uma mulher foi violada pelo companheiro que lhe transmitiu uma doença sexualmente transmissível e uma idosa foi violada no lar onde se encontrava.
- Casos de mulheres assasinadas: 2
Um dos casos foi o já referido da mulher assassinada pelo companheiro e outra companheira do mesmo. O outro foi de uma mulher assassinada pelo antigo companheiro com dois tiros.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 5
Uma menina, de 6 anos, foi infetada com uma doença sexualmente transmissível por um homem que a violou. Uma menor, de 15 anos, foi violada pelo senhorio. Uma outra menina automutilou-se por sofrer abusos do padrasto. Uma bebé de 18 meses foi abusada pelo marido da ama. Uma mulher vendeu a filha por 20 mil euros a um violador.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 1
Uma jovem com incapacidade cognitiva foi atraída para uma casa-de-banho pública por um homem que a violou.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 3
Um homem tentou violar duas amigas numa carrinha. Um outro obrigava a namorada a ter relações sexuais com ele, ameaçando-a com facas, gasolina e tesouras. Uma jovem francesa, estudante de medicina, foi violada num elevador em Portugal.
- Pornografia infantil: 2
Dois homens criaram perfis falsos para atraírem menores a quem pediam conteúdos íntimos. Outro homem partilhava conteúdos semelhantes.

Não foi possível encontrar notícias sobre o mês de junho. Já as informações conseguidas sobre o mês de Julho foram escassas. Os poucos jornais que consegui consultar falavam de muitas transferências de futebol, da alegada demência de Salgado para evitar julgamento e dos rendimentos de Proença. As notícias sobre violência contra as mulheres e raparigas foram parcas.
Gostaria de poder acreditar que esta falta de casos noticiados se deveu ao facto de estes não terem existido. Contudo, avaliando o contexto que fomos conhecendo ao longo dos 5 meses anteriores, é impossível crer que a violência contra mulheres e raparigas tenha sido reduzida a este ponto. Aliás, ainda que tenham faltado notícias atuais, uma notícia publicada pelo Correio da Manhã dava conta de que tinham já morrido 12 pessoas às mãos dos seus companheiros e companheiras. A esmagadora maioria das vítimas eram mulheres, os agressores eram maioritariamente homens. Para além disto, a mesma fonte dizia que, no final de junho, as casas de acolhimento contavam com 1098 vítimas, um número que tem tendência a crescer.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 3
Um homem agrediu a mulher grávida. Um outro obrigava a mulher a ter relações com ele, agredia-a, mal tratava-a e controlava até o que vestia. Um outro ameaçou a mulher com uma faca.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 1
Um agressor deixou punhais na porta da casa da ex-companheira.
- Casos de familiares agredidas: 1
Uma mulher foi presa por agredir e privar a mãe de comida.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 3
Uma mulher foi assaltada por dois homens. Um homem fez-se passar por um agente da GNR e seduzia mulheres mais velhas para depois as roubar. Uma jovem precisou de ser vista no hospital, em Sintra, depois de ter sido agredida.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 1
Um grupo de 4 homens portugueses alegadamente violou 2 mulheres espanholas.
- Pornografia infantil: 1
Um treinador pedófilo foi libertado e voltou a aliciar menores para que lhe mandassem vídeos com conteúdos íntimos.

O futebol, o arranque da época e as contratações foram uma constante nos títulos dos jornais. Para além disto, durante este mês, a vacinação de jovens foi bastante debatida e deu que falar pelos DJs contratados para tocar nos centros de vacinação. Como é evidente, Portugal não seria Portugal se, no pico do verão, não tivessem saído páginas e páginas de notícias sobre incêndios que todos os anos parecem fustigar o interior de norte a sul do país.
Numa nota muito mais positiva, foi também abordada a conquista olímpica de Patrícia Mamona, vencedora de uma medalha de ouro. Claro está que o Correio da Manhã, numa das suas edições, destacou uma foto da atleta de bikini na capa e informou os mais distraídos de que o namorado a tratava por “diamante”. Naquele dia, talvez faltassem notícias melhores.
Já face ao assunto que verdadeiramente nos interessa, a violência contra mulheres e raparigas, não podemos dizer que os agressores decidiram tirar férias. Os crimes continuaram a acumular-se, as mulheres continuaram a ser o número mais elevado de vítimas e a cantilena que tenho vindo a repetir para cada mês do ano não se alterou em nada.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 30
Duas grávidas foram agredidas pelos companheiros. Uma menor foi agredida pelo namorado. Uma menina, com 19 anos, tinha um amante mais velho que a encheu de gasolina e lhe ateou fogo. Uma mulher viu o seu gato ser morto como uma forma de tortura pensada pelo seu companheiro. A lista foi, novamente, demasiado longa.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 4
Por norma, os casos apresentados caracterizam-se por agressores homens que não superaram o término da relação.
- Casos de familiares agredidas: 3
Duas mães e uma avó foram as vítimas destacadas pelas notícias.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 6
Várias mulheres foram assaltadas, sendo que uma delas era idosa e a outra chegou mesmo a ser trancada. Para além destes casos, uma mulher que trabalhava num supermercado foi agredida por dois homens.
- Casos de violação de mulheres: 5
Se alguns destes crimes acabaram por ser apenas tentativas de violação, as restantes mulheres foram realmente violadas. Duas das vítimas já se encontravam na casa dos 60 anos e muitas delas foram atacadas na sua própria casa enquanto dormiam.
- Casos de mulheres assasinadas: 4
Mulher e filho foram mortos por o ex-marido não aceitar o divórcio. Num outro caso, uma mulher foi morta a troco de dinheiro prometido ao assassino. Uma outra mulher foi morta com uma faca e a última foi assassinada pelo namorado que já tinha tentado denunciar.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 9
Dois dos piores casos aconteceram por influência da família: uma mãe coagiu a filha a ter sexo com um casal que a iria sustentar e uma avó deixou que o seu companheiro dormisse e abusasse da sua neta.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 2
Num dos casos, um pai violou e engravidou a filha, aproveitando a sua condição mental. A jovem chegou mesmo a engravidar e a ter um aborto espontâneo.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 1
Uma mulher alugou, juntamente com o seu companheiro, um quarto a um amigo que acabou por colocar câmaras para a filmar no quarto-de-banho.
- Pornografia infantil: 4
Como vem sendo habitual, um homem enganava menores para que lhe enviassem conteúdos de cariz sexual que, mais tarde, procurava usar como ameaça. Num outro caso, um homem foi apanhado com cerca de 400 fotografias de menores.

O final do verão trouxe consigo os debates políticos para as eleições autárquicas que se avizinhavam. Os jornais foram preenchidos por inúmeras sondagens e temas relacionados com a política que, supostamente, serviriam para deixar a população mais informada e apta a votar em consciência. Também muito referenciado foi Cristiano Ronaldo, seja porque adiantaram que não pagava impostos em Portugal, seja porque foi burlado e usaram o seu cartão para ir de férias milionárias. Na ordem de destaque esteve, ainda, o fim da obrigação de utilização de máscaras na rua, algo muito bem recebido num país que já estava cansado das marcas de sol na cara.
Inicialmente, foi bastante divulgado e discutido o caso de Rúben Seabra, um futebolista que, aparentemente, terá violado uma jovem, com 17 anos. A jovem dizia que o jogador aproveitou o facto de esta ter bebido demasiado para a levar para o quarto, onde fechou a porta e lhe deu o peluche do filho. Não é surpreendente a polémica gerada: de um lado, alegavam que a menor queria dinheiro; do outro, consideravam provável que o jogador o tivesse feito, principalmente considerando que foram verificadas provas físicas de que existiram relações. Facto mesmo é que, a determinada altura do mês, o assunto que até ocupava capas de jornais deixou de ser referido e, portanto, ficamos sem conhecer o desfecho desta história que, possivelmente, terá sido mais uma entre tantas sobre violência contra o sexo feminino.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 33
Homens que batem, homens que gritam, homens que disparam armas de fogo em casa, homens que tentam asfixiar a mulher… Os crimes não terminam e as penalizações continuaram a ser escassas.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 4
Persistem as ameaças de morte e as perseguições. Num dos casos, a vítima chegou mesmo a ser sequestrada pelo ex-namorado.
- Casos de familiares agredidas: 7
Com exceção de uma filha espancada pelo pai, todos os casos são de mães agredidas pelos filhos.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 10
Entre várias situações delicadas, gostava de destacar a da malabarista que foi agredida e das funcionárias de um estabelecimento de massagens que foram obrigadas pela patroa a masturbar clientes.
- Casos de violação de mulheres: 5
O caso mais divulgado foi o de uma agente imobiliária violada e esfaqueada por um pintor que alegou ter-se apaixonado pelo cartaz da mesma, acabando por se fazer passar por um cliente para a atacar.
- Casos de mulheres assassinadas: 3
O corpo de uma mulher foi encontrado num poço, outra foi morta à facada em frente dos filhos e, por último, uma mulher foi assassinada pelo ex-companheiro que achou que ela seria uma bruxa. É caso para nos lembrarmos que somos as netas das bruxas que não conseguiram queimar.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 8
Dois pais violaram as suas filhas. Três homens raptaram uma menina, de 13 anos. Um tio abusava da sua sobrinha. Duas meninas foram violadas pelo mesmo homem, sendo que uma delas passou 5 dias com ele num curral.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 1
Mulher com problemas cognitivos foi atacada pelo seu vizinho.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 3
O caso do futebolista acima citado, uma jovem arrastada para um prédio em obras e outra que foi violada por dois homens que a embebedaram.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 1
Uma rapariga foi filmada pelo namorado quando tinham relações. O último chegou a partilhar os vídeos.
- Pornografia infantil: 1
Homem foi apanhado a partilhar conteúdos íntimos de menores.

O Orçamento de Estado foi a preocupação mais premente do mês de outubro. As manchetes abordavam o assunto e especulavam sobre possíveis eleições, que agora sabemos que se realizarão. A falta de médicos, o preço dos quartos para jovens e a reabertura de discotecas foram, também, temas centrais para a conversa do mês.
Durante estes dias, foi publicado um livro sobre o caso da Maddie, a menina desaparecida há 14 anos. Um caso em que já foram investidos milhares de euros e que continua por resolver. Um caso que, infelizmente, ilustra a violência a que meninas tão novas estão sujeitas, mostrando como acabamos por ter que desconfiar de todos os envolvidos já que, na realidade feminina, os crimes são cometidos inúmeras vezes por pessoas que nos são próximas.
A par disto, um filho que matou a mãe foi notícia constante nas páginas do jornal por ter sido libertado. Aparentemente, foi alegada esquizofrenia que o ilibou do assassinato da progenitora. Falando em crimes ilibados, um homem que agrediu a mulher e a arrastou foi igualmente ilibado já que o tribunal do Porto considerou que “o ato não tinha crueldade”. Arrastar uma mulher e agredi-la seja de que forma for não é, claramente, suficiente para que seja feita justiça.
Numa última nota sobre outubro, o Correio da Manhã adiantou uma notícia que estimava que 29 menores foram vítimas de redes de tráfico, mesmo com as fronteiras fechadas a maioria do tempo.
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 18
Outubro contou com menos notícias sobre agressões. Um rapper que tinha sido preso por agressão contra mulheres aproveitou o tempo que esteve em liberdade para voltar a bater na namorada e na ex-namorada.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 5
Num dos casos, uma mulher foi atacada com um zagalote pelo ex-namorado e, com sorte, sobreviveu sem danos físicos graves.
- Casos de familiares agredidas: 6
Metade dos casos encontrados foram contra mães. Contudo, ainda foram atacadas uma avó, uma tia e uma irmã.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 7
O caso que achei mais insólito era de um homem que se masturbava e atacava mulheres, principalmente peregrinas, nos Caminhos de Santiago.
- Casos de violação de mulheres: 2
Ambos os casos foram tentativas de violação que, felizmente, acabaram por não ser levadas até ao fim. Numa delas, a polícia ainda procurava a mulher agredida já que conseguiu fugir antes que chegassem ao local, mas desejavam o seu testemunho contra o agressor.
- Casos de mulheres assasinadas: 4
Um homem matou a irmã, esganando-a. Uma jovem foi baleada na cabeça e acabou por falecer já no hospital. Uma mulher foi morta pelo ex-marido em frente aos filhos e outra foi morta, também por um ex-marido, com um machado de lenha.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 12
Monitores de desporto, vizinhos, ciladas na internet, esperas na porta da escola, ilusões sobre manterem relações amorosas, abusos a filhas e sobrinhas, coação de uma menor de 15 anos por um menor, de 13 anos, que a ameaçou com uma faca, entre outros casos.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 2
Um dos casos é do Diretor da Cerci de Beja que abusou sexualmente de uma jovem portadora de deficiência mental.
- Pornografia infantil: 3
15 homens foram detidos por posse e divulgação de pornografia de menores. Outro foi detido por ter dezenas de imagens e um ex-treinador foi também acusado de aliciar menores a partilharem conteúdos íntimos.

Se, nos primeiros dias de novembro, foi tema de conversa o facto do Presidente da República ajudar um sem-abrigo que cumprira pena por dois homicídios, esse evento foi perdendo destaque à medida que os novos casos de Covid-19 subiam e que a crise política devido ao Orçamento de Estado surgia. No entanto, os jornais nacionais também fizeram questão de refletir sobre o ano no geral, aproveitando um dos meses finais de 2021.
Os Serviços de Estrangeiros e Fronteiras identificaram 16 pessoas inseridas em redes de tráfico. Esta informação vai ao encontro de notícias já relatadas sobre, pelo menos, uma rapariga que era escravizada por um casal que se fazia passar por família. A par disto, foram abertos 77 inquéritos sobre violação e abuso de menores e calculou-se que cerca de oito menores por dia, com especial incidência em raparigas, são vítimas destes crimes.
Concomitantemente, o aumento da violência é espelhado, também, nos números apresentados nos primeiros 5 meses do ano em que a violência doméstica, inserida no que tenho vindo a referir como violência em relações de intimidade, aumentou significativamente. Segundo os números apurados, existem 1140 reclusos por crimes de violência doméstica, sendo que apenas 905 estão efetivamente a cumprir pena na prisão. Ainda sobre este crime, o Observatório de Mulheres Assassinadas estabeleceu que, entre 1 de janeiro e 15 de novembro de 2021, 23 mulheres foram mortas (13 em casos de violência doméstica) e foram feitas 50 tentativas de femicídio (40 no mesmo contexto).
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 23
A brutalidade da maioria destes crimes permaneceu uma constante. Mulheres foram atacadas com facas, espancadas até não se conseguirem mexer, agredidas e até filmadas enquanto o estavam a ser.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 3
Num dos casos, o agressor foi detido por posse de armas. Outro caracterizou-se pelas ameaças de que sequestraria a filha menor.
- Casos de familiares agredidas: 1
Uma mãe foi agredida pelo filho durante vários anos. O marido era também agredido.
- Casos de mulheres agredidas e assediadas: 8
Destaca-se o caso de uma mulher que confrontou um vizinho por mal tratar o seu filho. Grávida, foi a casa do homem para o confrontar, levando consigo uma faca para se defender. O vizinho acabou por a balear, levando-a a ser hospitalizada. Felizmente, tanto a mãe como o bebé ficaram bem.
- Casos de violação de mulheres: 1
Uma mulher foi violada e engravidou enquanto estava inserida numa rede de escravatura, na qual foi presa com a promessa de boas condições de trabalho. Durante a gravidez, ainda foi espancada.
- Casos de mulheres assasinadas: 4
Uma mulher foi morta pelo marido com uma arma de caça. Outra foi morta pelo ex-companheiro que acabou por se entregar a pedido da mãe para quem ligou a confessar o crime. Uma idosa foi morta num assalto e uma outra mulher foi morta com um tiro na cabeça,
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 10
Entre os vários casos tenebrosos, destaca-se o de uma menina, com 13 anos, que engravidou do padrasto e o de uma outra menina, de 10 anos, sujeita a escravidão sexual por casal que se fazia passar por família.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 1
Uma menina com deficiências cognitivas e uma doença oncológica foi violada por um homem que se aproveitou da sua fragilidade.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 1
Uma jovem, de 21 anos, foi violada após uma festa.
- Pornografia infantil: 2
Dois homens foram detidos por deterem e partilharem conteúdos associados a pornografia de menores. Um deles foi acusado por 932 mil crimes, enquanto que o outro possuía 500 mil ficheiros de pornografia infantil.

Este artigo tem vindo a ser redigido a uma semana de terminar o mês de dezembro. Neste espaço de tempo é certo que muitas coisas podem acontecer e, infelizmente, as festividades não impedem que muitas dessas situações sejam péssimas. Os jornais da antevéspera de natal fazem referência ao acidente de Sara Carreira e expõem declarações de fadista no momento do acidente. É impressionante como meios de informação que deviam importar-se com assuntos verdadeiramente relevantes, não são capazes de dar descanso a uma família que já sofreu demasiado com uma perda destas.
Adiante, não existiram tantas notícias como nos meses anteriores relativas a episódios de violência contra mulheres e raparigas. Claro que o mês não saiu incólume e que as páginas dos jornais também se encontram marcadas por peripécias semelhantes às que nos assombraram um ano inteiro.
As pessoas têm focado a sua atenção na repetição das medidas de restrição durante a quadra natalícia. Contudo, acho que o nosso tempo era muito mais bem empregue se tivéssemos mais interesse na repetição de crimes contra as mulheres e raparigas. Crimes esses que não vão melhorar, que não vão diminuir enquanto as penas não forem repensadas. Ao longo das muitas páginas de jornais que li, reparei que várias pessoas foram condenadas por conduzirem sem carta. Estas condenações foram de anos. Não estará já na altura de agressores terem penas de anos atrás de grades sem ficarem em condicionais ou com pulseiras eletrónicas?
- Casos de mulheres agredidas em relações de intimidade: 8
Uma mulher foi agredida pelo marido no seu local de trabalho. Uma outra mulher era espancada com cintos e paus pelo marido, assim como os seus filhos também foram vítimas. Uma outra situação relata-nos que uma mulher era constantemente espancada até que o marido se cansasse, enquanto que outra foi atacada com um taser.
- Casos de mulheres agredidas por ex-companheiros: 1
Uma mulher sofreu uma tentativa de agressão no posto da GNR onde se encontrava. O ex-companheiro tentou agredi-la com um paralelo.
- Casos de familiares agredidas: 2
Uma mãe sofreu uma tentativa de asfixia. Uma outra mãe, já idosa e acamada, sofreu uma tentativa de assassinato por parte do filho, seu cuidador.
- Casos de violação de mulheres: 2
Uma idosa, de 87 anos, foi violada por um homem que entrou em sua casa fazendo-se passar por um agente da GNR. O outro caso relaciona-se com 14 prostitutas que foram violadas por um homem que se encontrava em liberdade condicional. O mesmo fazia-se passar por um cliente, mas, quando as vítimas entravam no quarto, ameaçava-as com uma faca junto da barriga e/ou pescoço para que fizessem o que ele dizia.
- Casos de mulheres assassinadas: 3
Uma mulher, com 64 anos, foi encontrada morta num poço. Uma avó foi assassinada com uma faca e uma outra mulher foi degolada pelo marido.
- Casos de abusos sexuais a meninas até aos 15 anos: 11
Entre os vários casos, destaca-se o de uma menina, de 14 anos, que foi abusada pelo responsável do grupo de acólitos que frequentava. Para além deste caso, uma mãe ofereceu a filha a um instrutor de zumba para que pudesse abusar sexualmente da menina de 12 anos. Um pai drogou as suas duas filhas, durante 6 anos, para que pudesse abusar delas.
- Casos de violação a mulheres com problemas de saúde (psicológico e/ou físico): 2
Num dos casos, uma jovem com “debilidade mental ligeira” foi violada. O outro caso é o de uma menina autista abusada pelo motorista da escola que frequentava.
- Casos de violação de jovens (entre os 16 e os 24 anos): 6
Uma jovem foi violada por um rapaz, depois de um jogo, e filmada por outro amigo. Outra foi violada por um amigo na sua própria casa, outra ao sair da faculdade, outra foi violada pelo pai de uns amigos que já tinha estado preso por crimes semelhantes e outra, ainda, na praia.
- Casos sobre abusos sexuais baseados em imagens: 1
Mulher e a sua filha, já adulta, tiveram as suas fotografias adulteradas e publicadas em sites internacionais. O indivíduo é ainda acusado de 42 crimes de pornografia infantil.
- Pornografia infantil: 1
Homem foi apanhado com centenas de ficheiros com conteúdo pornográfico de menores.

Antes de mais, se leram até aqui, obrigada! É importantíssimo que cada uma de nós possa compreender a dimensão da incidência de crimes contra as mulheres e raparigas como algo que ainda permanece totalmente entranhado no nosso quotidiano.
Objetificação em capas de jornais
Primeiro, existe uma pequena reflexão que gostava de fazer. Aliás, na verdade, trata-se mais de um pequeno desabafo não inteiramente relacionado com o tema e, contudo, demasiado relacionado com alguns tipos de violência a que somos expostas. Ao consultar os jornais portugueses para fazer o levantamento das notícias reparei que um jornal em particular costuma apresentar na sua capa pequenas imagens de mulheres famosas. Isto não seria problemático e até seria normal se não procurassem representá-las sempre com pouca roupa. Não consigo compreender a lógica de o fazerem em qualquer meio de comunicação, muito menos num jornal informativo que sai diariamente. Até em jornais que deveriam apenas concentrar-se em divulgar notícias, as mulheres são objetificadas e sexualizadas. Seja inverno ou verão, a maioria das fotografias são em bikini e em poses que evidenciam determinados atributos do seu corpo, nomeadamente, as pernas, o rabo e, sobretudo, os peitos. Como podem contribuir para a luta pelo fim da violência contra as mulheres e raparigas, divulgando notícias e condenando agressões, de modo a sensibilizar o público, quando, logo naquela que é a cara do seu trabalho, estão determinados a expor corpos femininos?
A violência não é retratada somente por estes números!
Infelizmente, os números apresentados, no decorrer deste artigo, não representam fielmente os verdadeiros números de casos de violência contra as mulheres e raparigas. Primeiramente, apenas se encontram representados aqueles a que tive acesso através da minha pesquisa. Segundo, mesmo os jornais e as autoridades não têm acesso a todas as vítimas. Os casos anunciados são fugazes representações de acontecimentos que têm lugar todos os dias e que afetam a vida de imensas mulheres e raparigas. Ao contabilizar a incidência de cada assunto, não podia deixar de me sentir melindrada e revoltada por saber que existem tantos crimes por descobrir.
O abuso sexual de meninas e jovens perpetuado por homens em quem deviam poder confiar.
Revolta-me que tantas meninas e jovens sejam violadas, assediadas e agredidas por homens em quem deviam poder confiar. São expostas a estes crimes por pais, tios, vizinhos… Em alguns casos, até mesmo pelas mães e avós. É inadmissível que as pessoas em quem mais devíamos poder confiar e que têm o dever de nos proteger exponham pessoas tão novas a estas situações. É inadmissível que crianças tão novas vejam a sua infância ser-lhes roubada. Simultaneamente, vemos cada vez mais membros da sociedade em quem também sempre fomos ensinadas a confiar a cometerem crimes atrozes: polícias, bombeiros, militares, entre outros. Vamos sentindo as paredes fecharem-se sobre nós, quase como se fosse impossível imaginarmos um mundo em que estas situações não ocorram. Mas não podemos ceder a este medo e não nos podemos resignar.
Agravando a situação, não podemos deixar de reparar que muitos dos crimes prescrevem antes que as vítimas decidam falar. O sistema de justiça devia estar adaptado para que este tipo de crime não tivesse data de validade, sobretudo, porque as chances de reincidir em futuros membros da família são elevadas e porque, acima de tudo, é preciso valorizar e proteger as mulheres e raparigas que quebram o silêncio.
A violência contra as mulheres e raparigas é uma constante e as penas não são suficientes!
A violência contra as mulheres e raparigas não tem lugar privilegiado. Acontece em cidades e aldeias, praias e serras, em locais ermos ou cheios de pessoas. Acontece de norte a sul do país. De este a oeste. Não escolhe a idade das vítimas e pouco se importa se são crianças de 18 meses ou idosas de 90 e muitos anos.
Os agressores, esses, são na sua maioria homens. Homens que se fazem valer da sua força e que – não satisfeitos com isso – ainda recorrem a todas as armas que conseguem imaginar: foices, granadas, facas, tesouras, gasolina, tasers e tantas outras. Homens que não conhecem punições suficientes e que são libertados logo após terem sido detidos. Eles ficam com uma pulseira e nós ficamos com o medo. Eles ficam em suas casas e nós procuramos abrigos. Demasiados casos são ilibados. Demasiados predadores e agressores saem impunes dos crimes que vão cometendo. O sistema de justiça não falha apenas com as vítimas diretas destes homens. Falha com todas nós já que todas somos vítimas em potencial. Todas somos mulheres. Todas conhecemos episódios que marcaram quem somos e a nossa visão do mundo em que algum homem teve uma conduta agressiva, incorreta, violenta contra nós.
Com esta reflexão gostava que todas ficássemos sensibilizadas para todas estas ideias. Gostava que nos lembrássemos que 2021 não foi um ano diferente. Não foi um ano menos violento. Pelo contrário, foi um ano em que este flagelo foi agravado pelo contexto pandémico em que vivemos e em que milhares de mulheres se viram fechadas com os seus agressores dias e meses a fio. Daqui a um ano, espero ter lido menos notícias atrozes. Espero ler menos não porque as mulheres e raparigas foram coagidas a não apresentar queixa contra os seus agressores mas, sim, porque existiram menos crimes contra elas. Por hoje, lembremos só aquelas de nós que sofreram e procuremos não ser nós, também, agressoras umas contra as outras como em alguns dos episódios que foram noticiados.
Catarina Borges [Técnica de Projeto do dMpM4 (Norte)]